domingo, 5 de maio de 2013


Sobre Thammy dilacerando rótulos

Jolivaldo Freitas

No momento em que minha querida amiga a jornalista Malu Verçosa, uma das mulheres mais inteligentes que conheço, leva a público sua relação com a cantora Daniela Mercury, clareando uma nova virtualidade para as relações inter-humanas, não se pode perder de perspectiva um outro fato relevante que quase passou desapercebido no espectro social brasileiro, que vem a ser a Thammy Gretchen (na verdade de sobrenome Miranda), a filha homossexual que Gretchen tinha cortado relações, ter sido transformada no chamado mulherão, em pleno papel que faz como assistente de delegacia (seu perfil anterior era de lésbica estilo "caminhoneira") na novela Salve Jorge da TV Globo.

A vida de todo mundo é complicada. Complica-se ainda mais por causa de chavões, estereótipos, dogmas e clichês. Desde cedo o menino tem de fazer movimentos másculos e as meninas precisam ser delicadas. Mas, neste novo mundo em que estamos no cadinho, mesmo aqueles segmentos que tinham uma noção estreita do seu papel e jeito de ser sofrem da necessidade de impor uma feição própria. Há tempos os homens descobriram seu lado feminino e as mulheres que são sexo forte.

Dentro dos grupos caracterizados passaram a surgir subgrupos e a necessidade de uma performance delimitativa do papel de cada um nesta intra sociedade. A Thammy Gretchen quando se feminilizou por necessidade do seu papel na novela – e o interessante é que a autora Glória Perez tem o dom de atirar no que não viu e acertar a granel – criou um fato novo. Uma mulher homossexual não precisa, necessariamente, perder sua feminilidade.

O que se vê é que com medo de assumir esta essência, muitas ficam embrutecidas. Algumas de tão másculas com seus cabelos curtos estilo VO, bíceps proeminentes e passos de infantaria parecem sargentos dos Fuzileiros Navais, na visão debochada de estudioso local da causa gay que trocava umas ideias comigo para que eu pudesse escrever e tocar neste assunto tão caro à uma minoria que cresce no absoluto da população.

A Thammy, minha senhora, meu senhor, com sua atitude de obedecer ao roteiro estabelecido e mostrar-se um mulherão, revelou e impôs que cabelo bem tratado, maquiagem, gestual natural e até adornos não descaracterizam o que se sente ou vai por dentro do peito e da mente. Ali, naquele instante fugaz, rompiam-se lacre, rótulos, slogans, dogmas, marcas, imagens e principalmente o próprio preconceito. Virou mulherão. Isso não abalou sua estrutura pessoal. Ela continua a ser o que sempre foi. É libertário.

Lembro quando poucos anos passados estive num bar luxuoso frequentado por gays e não lembro se foi numa das ruas internas da Pituba ou do Itaigara. O que me chamou a atenção é que as próprias homossexuais tinham feito espontaneamente uma divisão de perfil. De um lado estavam as chamadas lesbian chics. Do outro lado as características "machonas". Não se misturavam. E um grupo ainda falava mal do outro. Foi a primeira vez que isso me chamou a atenção. Preconceito existe onde menos se pensa. Até onde se pensa que não deveria ter.

Pois, vamos pegar os exemplos recentes e dar um salto à frente. Tudo bem! Lembrando da necessidade de respeito à liberdade de expressão. Cada um sabe de si. E a vida é curta para todo genoma. (Acesse: www.noticiacapital.com.br)

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